Boa parte da minha juventude foi marcada pela leitura das
obras de Eric Hobsbawn ( 1917-2012) . Diversos posts deste blog reproduziram o
pensamento de Hobsbawn em momentos diversificados dos séculos “com muro” e “sem
muro”. Concluo aqui as repostagens.
A crise de 2008 e
os 150 anos do Manifesto.
( 9 de outubro de 2011)
Eric Hobsawm, em entrevista concedida a Marcelo Musto e publicada em Carta
Maior, faz mais uma brilhante análise do renascimento do velho Karl, em plena
crise mundial de 2008, quando se comemorava os 150 anos do Manifesto. Veja a resposta
à primeira pergunta ou acesse a íntegra em
www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=15253
“Há um indiscutível renascimento do interesse público por
Marx no mundo capitalista, com exceção, provavelmente, dos novos membros da
União Européia, do leste europeu. Este renascimento foi provavelmente acelerado
pelo fato de que o 150° aniversário da publicação do Manifesto Comunista
coincidiu com uma crise econômica internacional particularmente dramática em um
período de uma ultra-rápida globalização do livre-mercado.
Marx previu a natureza da economia mundial no início do
século XXI, com base na análise da “sociedade burguesa”, cento e cinqüenta anos
antes. Não é surpreendente que os capitalistas inteligentes, especialmente no
setor financeiro globalizado, fiquem impressionados com Marx, já que eles são
necessariamente mais conscientes que outros sobre a natureza e as
instabilidades da economia capitalista na qual eles operam.
A maioria da esquerda intelectual já não sabe o que fazer
com Marx. Ela foi desmoralizada pelo colapso do projeto social-democrata na
maioria dos estados do Atlântico Norte, nos anos 1980, e pela conversão massiva
dos governos nacionais à ideologia do livre mercado, assim como pelo colapso
dos sistemas políticos e econômicos que afirmavam ser inspirados por Marx e
Lênin. Os assim chamados “novos movimentos sociais”, como o feminismo, tampouco
tiveram uma conexão lógica com o anti-capitalismpo (ainda que, individualmente,
muitos de seus membros possam estar alinhados com ele) ou questionaram a crença
no progresso sem fim do controle humano sobre a natureza que tanto o
capitalismo como o socialismo tradicional compartilharam. Ao mesmo tempo, o
“proletariado”, dividido e diminuído, deixou de ser crível como agente
histórico da transformação social preconizada por Marx.
Devemos levar em conta também que, desde 1968, os mais
proeminentes movimentos radicais preferiram a ação direta não necessariamente
baseada em muitas leituras e análises teóricas. Claro, isso não significa que
Marx tenha deixado de ser considerado como um grande clássico e pensador, ainda
que, por razões políticas, especialmente em países como França e Itália, que já
tiveram poderosos Partidos Comunistas, tenha havido uma apaixonada ofensiva
intelectual contra Marx e as análises marxistas, que provavelmente atingiu seu
ápice nos anos oitenta e noventa. Há sinais agora de que a água retomará seu
nível.
Ainda que um tanto ausente do blog, não me surpreende -- como não poderia deixar de ser -- que tanto espaço tenha sido dedicado à Hobsbawn. Mesmo decorridos tantos anos, lembro c/ assustadora nitidez de qndo -- na casa de uma antiga namorada -- estive, pela primeira vez, c/ uma obra de Hobsbawn nas mãos. Se não me falha a memória, eram meados de 97, e o livro chamava-se "Era dos Extremos". Naquele tempo -- prestes, aliás, a ingressar na faculdade de Direito --, o "normal" -- a exemplo da grande maioria de meus colegas -- seria, p.ex., ir à praia, frequentar discotecas, beber, enfim, se divertir. O que podia fazer, no entanto, se ler -- e no momento aqui tratado em especial, ler aquela obra de Hobsbawn -- era a minha diversão? Bem, o importante é que pude conhecer -- nas palavras do próprio Hobsbawn -- a história "da era das ilusões perdidas", o que, certamente, contribuiu [e muito!] p/ minha formação intelectual. E aquele era, repita-se, meu primeiro contato c/ Hobsbawn! Imagine, se possível, as outras tantas madrugadas que passei em sua "companhia"! Com efeito, sua morte é um fato a se lamentar. Ocorre, entretanto, que há outro fato que -- longe de ser lamentado -- será eterno: sua lúcida e marxista forma de analisar a História.
ResponderExcluirParabéns pelos posts.
Forte abraço,
BR
Caro B.R.,
ResponderExcluirNossas histórias são mais comuns do que podem parecer - creio que centenas de milhares de jovens, em todo o mundo, "descobriram" Hobsbawn de maneira semelhante. Minha descoberta aconteceu já na Nacional de Direito ( Caco). Após uma interrupção de alguns anos, voltei a mergulhar na obra do mais notável historiador/marxista do século 20, "com muro" e "sem muro". Ainda hoje, reservo um tempo pra reler Hobsbawn - a cada releitura encontro visões novas.
Super abraço.