Boa parte da minha juventude foi marcada pela leitura das
obras de Eric Hobsbawn ( 1917-2012) . Diversos posts deste blog reproduziram o
pensamento de Hobsbawn em momentos diversificados dos séculos “com muro” e “sem
muro”. Nos próximos dias vou repostar algumas das análises e reflexões que mais
me tocaram.
As 4 conquistas
permanentes do marxismo.
(15 de janeiro de 2012)
No dia de seu 94º aniversário – 9 de junho de 2011 – Eric
Hobsbwam concede entrevista ao blog Beppe Grillo, a propósito do lançamento da
versão italiana de seu último livro (How to
Change the World - Why rediscover the inheritance of Marxism). Na entrevista, Hobsbawm fala da
ascensão da direita na Europa ( faz previsão – confirmada – da derrota da
esquerda na Espanha) e apresenta as quatro conquistas permanentes do marxismo.
Destaca como a mais relevante, a análise de como o modo capitalista de produção
operou e de seu desenvolvimento. Enfatiza o “descontínuo modo
através do qual o sistema cresceu e desenvolveu contradições, que por sua vez
produziram grandes crises”. E conclui apresentando uma conquista que “Marx
talvez não reconhecesse – mas que esteve sempre presente no marxismo: um
elemento de utopia”.
“........ no momento, o marxismo deixou de ser o principal
sistema de crenças associado aos grandes movimentos políticos de massa em toda
a Europa. Apesar disso, acho que sobrevivem alguns pequenos movimentos
marxistas. Nesse sentido, houve uma grande mudança no papel político que o
marxismo desempenha na política da Europa. Há algumas partes do mundo, por
exemplo, a América Latina, em que as coisas não se passaram do mesmo modo. A
consequência daquela mudança, na minha opinião, é que agora todos podemos
concentrar-nos mais e melhor nas mudanças permanentes que o marxismo provocou,
nas conquistas permanentes do marxismo.
Essas conquistas permanentes, na minha opinião, são as
seguintes:
Primeiro, Marx introduziu
algo que foi considerado novidade e ainda não se realizou completamente, a
saber, a crença de que o sistema econômico que conhecemos não é permanente nem
destinado a durar eternamente; que é apenas uma fase, uma etapa no
desenvolvimento histórico que acontece de um determinado modo e deixará de
existir e converter-se-á noutra coisa ao longo do tempo.
Segundo, acho que Marx
concentrou-se na análise do específico modus operandi, do modo como o sistema
operou e se desenvolveu. Em particular, concentrou-se no curioso e descontinuo
modo através do qual o sistema cresceu e desenvolveu contradições, que por sua
vez produziram grandes crises.
A principal vantagem da análise que o marxismo permite fazer
é que considera o capitalismo como um sistema que origina periodicamente
contradições internas que geram crises de diferentes tipos que, por sua vez,
têm de ser superadas mediante uma transformação básica ou alguma modificação
menor do sistema. Trata-se desta descontinuidade, desta assunção de que o
capitalismo opera não como sistema que tende a se auto-estabilizar, mas que é
sempre instável e eventualmente, portanto, requere grandes mudanças. Esse é o
principal elemento que ainda sobrevive do marxismo.
Terceiro, e acho que aí
está a preciosidade do que se poderá chamar de fenômeno ideológico, o marxismo
é baseado, para muitos marxistas, num senso profundo de injustiça social, de
indignação contra a desigualdade social entre os pobres e os ricos e
poderosos.
Quarto, e último, acho
que talvez se deva considerar um elemento – que Marx talvez não reconhecesse –
mas que esteve sempre presente no marxismo: um elemento de utopia. A crença de
que, de um modo ou de outro, a sociedade chegará a uma sociedade melhor, mais
humana, do que a sociedade na qual todos vivemos atualmente.
Íntegra da
entrevista no blog lisboeta:
http://www.esquerda.net/artigo/marxismo-hoje-entrevista-eric-hobsbawm
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