sábado, 6 de outubro de 2012

Tributo a Hobsbawn, 3


Boa parte da minha juventude foi marcada pela leitura das obras de Eric Hobsbawn ( 1917-2012) . Diversos posts deste blog reproduziram o pensamento de Hobsbawn em momentos diversificados dos séculos “com muro” e “sem muro”. Nos próximos dias vou repostar algumas das análises e reflexões que mais me tocaram.

As 4 conquistas permanentes do marxismo.
(15 de janeiro de 2012)

No dia de seu 94º aniversário – 9 de junho de 2011 – Eric Hobsbwam concede entrevista ao blog Beppe Grillo, a propósito do lançamento da versão italiana de seu último livro (How to Change the World - Why rediscover the inheritance of Marxism). Na entrevista, Hobsbawm fala da ascensão da direita na Europa ( faz previsão – confirmada – da derrota da esquerda na Espanha) e apresenta as quatro conquistas permanentes do marxismo. Destaca como a mais relevante, a análise de como o modo capitalista de produção operou e de seu desenvolvimento. Enfatiza o “descontínuo modo através do qual o sistema cresceu e desenvolveu contradições, que por sua vez produziram grandes crises”. E conclui apresentando uma conquista que “Marx talvez não reconhecesse – mas que esteve sempre presente no marxismo: um elemento de utopia”.

“........ no momento, o marxismo deixou de ser o principal sistema de crenças associado aos grandes movimentos políticos de massa em toda a Europa. Apesar disso, acho que sobrevivem alguns pequenos movimentos marxistas. Nesse sentido, houve uma grande mudança no papel político que o marxismo desempenha na política da Europa. Há algumas partes do mundo, por exemplo, a América Latina, em que as coisas não se passaram do mesmo modo. A consequência daquela mudança, na minha opinião, é que agora todos podemos concentrar-nos mais e melhor nas mudanças permanentes que o marxismo provocou, nas conquistas permanentes do marxismo. 
Essas conquistas permanentes, na minha opinião, são as seguintes:
Primeiro, Marx introduziu algo que foi considerado novidade e ainda não se realizou completamente, a saber, a crença de que o sistema econômico que conhecemos não é permanente nem destinado a durar eternamente; que é apenas uma fase, uma etapa no desenvolvimento histórico que acontece de um determinado modo e deixará de existir e converter-se-á noutra coisa ao longo do tempo. 
Segundo, acho que Marx concentrou-se na análise do específico modus operandi, do modo como o sistema operou e se desenvolveu. Em particular, concentrou-se no curioso e descontinuo modo através do qual o sistema cresceu e desenvolveu contradições, que por sua vez produziram grandes crises.
A principal vantagem da análise que o marxismo permite fazer é que considera o capitalismo como um sistema que origina periodicamente contradições internas que geram crises de diferentes tipos que, por sua vez, têm de ser superadas mediante uma transformação básica ou alguma modificação menor do sistema. Trata-se desta descontinuidade, desta assunção de que o capitalismo opera não como sistema que tende a se auto-estabilizar, mas que é sempre instável e eventualmente, portanto, requere grandes mudanças. Esse é o principal elemento que ainda sobrevive do marxismo. 
Terceiro, e acho que aí está a preciosidade do que se poderá chamar de fenômeno ideológico, o marxismo é baseado, para muitos marxistas, num senso profundo de injustiça social, de indignação contra a desigualdade social entre os pobres e os ricos e poderosos. 
Quarto, e último, acho que talvez se deva considerar um elemento – que Marx talvez não reconhecesse – mas que esteve sempre presente no marxismo: um elemento de utopia. A crença de que, de um modo ou de outro, a sociedade chegará a uma sociedade melhor, mais humana, do que a sociedade na qual todos vivemos atualmente. 
Íntegra da entrevista no blog lisboeta:
http://www.esquerda.net/artigo/marxismo-hoje-entrevista-eric-hobsbawm


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