Em dezembro de 2004, Dora Incontri e Alessandro Cesar Bigheto, publicam na revista on-line da Unicamp uma rica reflexão com o titulo “Socialismo e Espiritismo, aproximações dialéticas”, cuja íntegra pode ser lida em www.histedbr.fae.unicamp.br/rev16.html. No trecho a seguir transcrito, Kardec valoriza a propriedade coletiva, critica a desigualdade e sentencia que “Numa sociedade organizada segundo a lei do Cristo, ninguém deve morrer de fome.”
“Entre as questões levantadas por Kardec na referida obra ( Livro dos Espíritos) está a da propriedade, que era, como se sabe, objeto de discussão de socialistas e anarquistas de todos os matizes. A idéia expressa em O Livro dos Espíritos vai no sentido da propriedade coletiva, com a crítica ao acúmulo de capital, que se manifesta no plano moral, como egoísmo:
O direito de viver confere ao homem o direito de ajuntar o que necessita para viver e repousar, quando não mais puder trabalhar? — Sim, mas deve fazê-lo em comum, como a abelha, através de um trabalho honesto, e não ajuntar como um egoísta.” (KARDEC, item 881)
Em seguida, Kardec indaga, a partir do ponto de vista liberal, que sempre defendeu a idéia de que a riqueza é uma questão de mérito (e não de injustiça) e a resposta mais uma vez é crítica.
A desigualdade das riquezas não tem sua origem na desigualdade das faculdades, que dão a uns mais meios de adquirir do que a outros? — Sim e não. Que dizes da astúcia e do roubo?” (KARDEC, item 801)
Em várias outras passagens há críticas ao supérfluo de uns e à miséria de outros, à criação artificial de necessidades – em suma, o que poderíamos hoje chamar de consumismo excludente:
Há, entretanto, uma medida comum de felicidade para todos os homens? — Para a vida material, a posse do necessário; para a vida moral, a consciência pura e a fé no futuro.” (KARDEC, item 922) “Numa sociedade organizada segundo a lei do Cristo, ninguém deve morrer de fome.”