Em 1895,
poucos meses antes de sua morte, Engels produz um texto relevante – “Contribuição
Para a História do Cristianismo Primitivo” – onde destaca “curiosos pontos de
contato do cristianismo primitivo com o movimento operário moderno” e afirma
que “Os dois, o cristianismo como o socialismo operário, pregam uma libertação
próxima da servidão e da miséria; o cristianismo transpõe essa libertação para
o Além, numa vida depois da morte, no céu; o socialismo coloca-a no mundo, numa
transformação da sociedade”.
No mesmo
documento revela sua admiração pelo evangelista João:
“Ora, existe
no Novo Testamento um único livro de que é possível, com margem de alguns
meses, fixar a data da redação; ele deve ter sido escrito entre junho de 67 e
janeiro ou abril de 68; é um livro que, por consequência, pertence aos mais
longínquos tempos cristãos, que reflete as ideias dessa época com a mais
ingênua sinceridade e na língua idiomática que lhe corresponde; que, de início,
é, na minha opinião, muito mais importante para determinar o que foi realmente
o cristianismo primitivo que todo o resto do Novo Testamento, muito posterior
em data na sua redação atual. Esse livro é o que se chama o apocalipse de
João; e como, ainda por cima, esse livro, em aparência o mais obscuro de toda a
Bíblia, se tornou hoje, graças à crítica alemã, o mais compreensível e o mais
transparente de todos, proponho-me falar dele aos nossos leitores.
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“O João que
se propõe para autor era em todo o caso um homem muito considerado entre os
cristãos da Ásia Menor. O tom das cartas às sete Igrejas é disso garantia.
Poderia pois admitir-se que fosse o apóstolo João cuja existência histórica, se
não é absolutamente atestada, é pelo menos muito possível. E se esse apóstolo
fosse efetivamente o autor, não se poderia pretender melhor para a nossa tese.
Seria a melhor prova de que o cristianismo desse livro é o verdadeiro
cristianismo primitivo. Está provado, diga-se de passagem, que o “Apocalipse”
não é do mesmo autor do Evangelho ou das três “Epístolas” atribuídas a João.”
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