sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Engels e o Evangelho de João. 1/2

Em 1895, poucos meses antes de sua morte, Engels produz um texto relevante – “Contribuição Para a História do Cristianismo Primitivo” – onde destaca “curiosos pontos de contato do cristianismo primitivo com o movimento operário moderno” e afirma que “Os dois, o cristianismo como o socialismo operário, pregam uma libertação próxima da servidão e da miséria; o cristianismo transpõe essa libertação para o Além, numa vida depois da morte, no céu; o socialismo coloca-a no mundo, numa transformação da sociedade”.
No mesmo documento revela sua admiração pelo evangelista João:
“Ora, existe no Novo Testamento um único livro de que é possível, com margem de alguns meses, fixar a data da redação; ele deve ter sido escrito entre junho de 67 e janeiro ou abril de 68; é um livro que, por consequência, pertence aos mais longínquos tempos cristãos, que reflete as ideias dessa época com a mais ingênua sinceridade e na língua idiomática que lhe corresponde; que, de início, é, na minha opinião, muito mais importante para determinar o que foi realmente o cristianismo primitivo que todo o resto do Novo Testamento, muito posterior em data na sua redação atual. Esse livro é o que se chama o apocalipse de João; e como, ainda por cima, esse livro, em aparência o mais obscuro de toda a Bíblia, se tornou hoje, graças à crítica alemã, o mais compreensível e o mais transparente de todos, proponho-me falar dele aos nossos leitores.
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“O João que se propõe para autor era em todo o caso um homem muito considerado entre os cristãos da Ásia Menor. O tom das cartas às sete Igrejas é disso garantia. Poderia pois admitir-se que fosse o apóstolo João cuja existência histórica, se não é absolutamente atestada, é pelo menos muito possível. E se esse apóstolo fosse efetivamente o autor, não se poderia pretender melhor para a nossa tese. Seria a melhor prova de que o cristianismo desse livro é o verdadeiro cristianismo primitivo. Está provado, diga-se de passagem, que o “Apocalipse” não é do mesmo autor do Evangelho ou das três “Epístolas” atribuídas a João.”

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