Os
“marxistas clássicos” - uma expressão que engloba os “marxistas-leninistas”
(ainda existem, fora de Cuba e Coreia do Norte ?) – têm uma certa dificuldade
em aceitar o hegelianismo de Marx/Engels. Para esse grupo, o hegelianismo de
Marx foi uma aventura da juventude, expurgada na maturidade. Vale lembrar que
Althusser recomenda “pular” o 1º Capítulo do primeiro volume de O Capital (o
único revisto por Marx), em virtude da “influência hegeliana”, presente no
conceito de fetichismo da mercadoria.
Os
textos abaixo foram extraídos de um artigo de Engels, publicado no jornal Das
Volk em agosto de 1859 ( oito anos antes da 1ª edição de O Capital) e dispensam
comentários.
“O que
distinguia o modo de pensar de Hegel de todos os outros filósofos era o enorme
sentido histórico que lhe estava subjacente. Por abstrata e idealista que fosse
a forma, o desenvolvimento do seu pensamento não deixava de ir sempre em
paralelo com o desenvolvimento da história universal, e esta última,
propriamente, não deverá ser senão a prova do primeiro. Ainda que, por este
fato, a relação correta tenha sido também invertida e posta de pernas para o
ar, o seu conteúdo real penetrou, contudo, por todo o lado, na filosofia; tanto
mais que Hegel se diferenciava dos seus discípulos em que não se gabava, como
eles, da sua ignorância, mas era uma das cabeças mais sábias de todos os
tempos. Foi ele o primeiro a procurar mostrar um desenvolvimento, um
encadeamento interno, na história e, por estranha que agora muita coisa na sua
filosofia da história nos possa parecer, a grandiosidade da própria visão
fundamental é ainda hoje digna de admiração, quando se lhe comparam os seus
predecessores ou mesmo aqueles que depois dele se permitiram reflexões universais
sobre a história. Na Fenomenologia, na Estética, na História
da Filosofia, por toda a parte perpassa esta grandiosa concepção da
história e, por toda a parte, a matéria é tratada historicamente, numa conexão
determinada, ainda que também abstratamente distorcida, com a história.”
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“Marx
era, e é, o único que podia entregar-se ao trabalho de tirar da casca da lógica
hegeliana o núcleo que encerra as descobertas reais de Hegel neste domínio e de
restabelecer o método dialético, despido das suas roupagens idealistas, na
forma simples em que ele se torna a única forma correta de desenvolvimento do
pensamento. Consideramos a elaboração do método que está na base da crítica de
Marx à Economia Política como um resultado que, pelo seu significado, em quase
nada é inferior à visão materialista fundamental.”
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