quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

O Poder do Voto X as lutas de rua.


Em 6 de março de 1895, 5 meses antes de sua morte (5/8/1895), Engels produz um de seus mais amadurecidos ensaios, ao fazer a introdução de mais uma edição alemã da “A Luta de Classes na França”. O documento mereceu um registro especial de Rosa Luxemburgo: “ grande importância deve ser conferida a um dos históricos documentos do movimento operário alemão: o prefácio escrito por Frederick Engels em 1985 para a reedição da Luta de Classes na França”.
Selecionei dois trechos para uma reflexão, neste momento de “manifestações violentas” no Brasil e no mundo.
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“Graças ao uso inteligente que os operários alemães fizeram do sufrágio universal introduzido em 1866, o crescimento surpreendente do partido é tornado claro para todo o mundo por números incontestáveis ​​: 1871, 102.000 ; 1874, 352.000 ; 1877, 493.000 votos socialdemocratas.
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E assim aconteceu que a burguesia e o governo passaram a ser muito mais temerosos com a ação legal do que com a ação ilegal do partido dos trabalhadores; com os resultados das eleições do que com a  rebelião.
Por aqui, também, as condições da luta tinha mudado fundamentalmente. Rebelião no estilo antigo, luta de rua com barricadas , que decidiu a questão em todos os lugares até 1848, tornou-se , em grande parte, ultrapassada.”

107 anos após a publicação do texto de Engels um operário metalúrgico, fundador do Partido dos Trabalhadores, assumiu a Presidência da República em um país da América Latina... Um pouco antes – 1990 – outro operário assumia a presidência da Polônia....

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Sufrágio universal na ditadura do proletariado.


Em 1891, na comemoração do 20º aniversário da Comuna de Paris, Engels faz uma introdução à reedição de “ A Guerra Civil na França” onde exalta o sufrágio universal na ditadura do proletariado. Parece uma contradição; mas não é.
Contra esta transformação, inevitável em todos os Estados até agora existentes, do Estado e dos órgãos do Estado, de servidores da sociedade em senhores da sociedade, aplicou a Comuna dois meios infalíveis. Em primeiro lugar, ocupou todos os cargos administrativos, judiciais, docentes, por meio de eleição por sufrágio universal dos interessados, e mais, com revogação a todo o momento por estes mesmos interessados. E, em segundo lugar, ela pagou por todos os serviços, grandes e pequenos, apenas o salário que outros operários recebiam. O ordenado mais elevado que ela pagava era de 6000 francos. Assim se fechou a porta, eficazmente, à caça aos cargos e à ganância da promoção, mesmo sem os mandatos imperativos que, além do mais, no caso dos delegados para corpos representativos ainda foram acrescentados.
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O filisteu socialdemocrata caiu recentemente, outra vez, em salutar terror, à palavra: ditadura do proletariado. Ora bem, senhores, quereis saber que rosto tem esta ditadura? Olhai para a Comuna de Paris. Era a ditadura do proletariado.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Fetichismo da mercadoria. 4 séculos de frases.


1690 - “Mercadorias, que têm o seu valor estabelecido como suprimento das necessidades da mente, satisfazem desejos. Desejo provoca demanda. É o apetite da alma, e é tão natural para a alma, como a fome para o corpo.”
Nicholas Barbon – “A Discurse of Trade” (Um discurso sobre o Comércio).
1867 - “A primeira vista, uma mercadoria parece uma coisa trivial e que se compreende por si mesma. Pela nossa análise mostramos que, pelo contrário, é uma coisa muito complexa, cheia de sutilezas metafísicas e de argúcias teológicas.” Karl Marx – “O Capital”.
1967 - “Marketing é a atividade humana dirigida para satisfação das necessidades e desejos, através dos processos de troca. Um produto é tudo aquilo capaz de satisfazer a um desejo”.
Phillip Kotler - “Marketing Management”.
1993 -“A maioria das pessoas nem chega a se dar conta de que há literalmente um outro mundo operando dentro de nós. ......É um reino mitológico, um desconhecido mundo cheio de seres arquétipos, demônios e toda uma horda de entidades estranhas.” Sal Randazo - “ A criação de mitos na publicidade”:

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Existe um marxismo "correto"? Hobsbawm com a palavra.



Desde a primeira leitura da “Era das Revoluções”, ingressei no fã clube de Eric Hobsbawm. Em 1966, já sem ilusões em relação ao comunismo, Eric escreve “O Diálogo sobre o Marxismo” que, em 1973, participaria do livro “Revolucionários” (editado no Brasil pela Paz e Terra). No texto, afirma que “uma grande parte do marxismo deve ser repensado e redescoberto”. Hoje, passados 44 anos, o desafio permanece. Selecionei 2 parágrafos que evidenciam os equívocos a que todos nós, ex-membros do “Partidão”, fomos induzidos.
“ Os comunistas vão se dando conta, cada vez mais, de que o que aprenderam a acreditar e a repetir não era simplesmente o “marxismo”, senão o marxismo conforme desenvolvido por Lênin e congelado, simplificado, e às vezes distorcido sob Stalin, na União Soviética. Que o “marxismo” não é um corpo de teorias e descobertas acabadas, mas um processo de desenvolvimento; que o próprio pensamento de Marx, por exemplo, continuou a se desenvolver durante toda sua vida. Que o marxismo tem, sem dúvida, respostas potenciais, mas frequentemente nenhuma resposta efetiva aos problemas concretos que hoje enfrentamos, em parte porque a situação mudou desde Marx e Lênin, em parte porque nenhum dos dois disse nada sobre certos problemas que já existiam em suas épocas e que são importantes para nós.”
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“Não há atalhos para o marxismo: nem o apelo a Lênin contra Stalin, nem a Marx, nem ao jovem Marx contra o Marx da maturidade. Há somente trabalho árduo, longo e, nas atuais circunstâncias, talvez não conducente a conclusões definitivas.”

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Políticos em 1891, by Engels.

Em março de 1891 – oito anos após a morte de Marx – Engels traça um  perfil dos políticos norte-americanos. Um perfil com muitos pontos de contato com a avaliação popular dos similares verde-amarelos,  de 2014.
“Em parte alguma os «políticos» formam um destacamento da nação mais separado e mais poderoso do que precisamente na América do Norte. Ali, cada um dos dois grandes partidos aos quais cabe alternadamente a dominação é ele próprio governado por pessoas que fazem da política um negócio, que especulam com lugares nas assembleias legislativas da União e de cada um dos Estados, ou que vivem da agitação para o seu partido e são, após a vitória deste, recompensados com cargos. É sabido que os americanos procuram, desde há trinta anos, sacudir este jugo tornado insuportável e que, apesar de tudo, se atascam sempre mais fundo nesse pântano da corrupção. É precisamente na América que podemos ver melhor como se processa esta autonomização do poder de Estado face à sociedade, quando originalmente estava destinado a ser mero instrumento desta. Não existe ali uma dinastia, uma nobreza, um exército permanente — excetuados os poucos homens para a vigilância dos índios — nem burocracia com emprego fixo ou direito à reforma. E, não obstante, temos ali dois grandes bandos de especuladores políticos que, revezando-se, tomam conta do poder de Estado e o exploram com os meios mais corruptos para os fins mais corruptos — e a nação é impotente contra estes dois grandes cartéis de políticos pretensamente ao seu serviço, mas que na realidade a dominam e saqueiam.”


domingo, 9 de fevereiro de 2014

O mundo dos filósofos.

Uma das frases mais famosas de Marx foi elaborada em 1845 e publicada somente em 1888 – cinco anos após sua morte – por Engels, como apêndice de sua obra Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Alemã Clássica:Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes; a questão, porém, é transformá-lo.”

Decorridos 169 anos, fica a pergunta: algum filósofo, entre eles Marx, conseguiu transformar o mundo ?

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Os Hegelianos Marx e Engels.


Os “marxistas clássicos” - uma expressão que engloba os “marxistas-leninistas” (ainda existem, fora de Cuba e Coreia do Norte ?) – têm uma certa dificuldade em aceitar o hegelianismo de Marx/Engels. Para esse grupo, o hegelianismo de Marx foi uma aventura da juventude, expurgada na maturidade. Vale lembrar que Althusser recomenda “pular” o 1º Capítulo do primeiro volume de O Capital (o único revisto por Marx), em virtude da “influência hegeliana”, presente no conceito de fetichismo da mercadoria.
Os textos abaixo foram extraídos de um artigo de Engels, publicado no jornal Das Volk em agosto de 1859 ( oito anos antes da 1ª edição de O Capital) e dispensam comentários.
“O que distinguia o modo de pensar de Hegel de todos os outros filósofos era o enorme sentido histórico que lhe estava subjacente. Por abstrata e idealista que fosse a forma, o desenvolvimento do seu pensamento não deixava de ir sempre em paralelo com o desenvolvimento da história universal, e esta última, propriamente, não deverá ser senão a prova do primeiro. Ainda que, por este fato, a relação correta tenha sido também invertida e posta de pernas para o ar, o seu conteúdo real penetrou, contudo, por todo o lado, na filosofia; tanto mais que Hegel se diferenciava dos seus discípulos em que não se gabava, como eles, da sua ignorância, mas era uma das cabeças mais sábias de todos os tempos. Foi ele o primeiro a procurar mostrar um desenvolvimento, um encadeamento interno, na história e, por estranha que agora muita coisa na sua filosofia da história nos possa parecer, a grandiosidade da própria visão fundamental é ainda hoje digna de admiração, quando se lhe comparam os seus predecessores ou mesmo aqueles que depois dele se permitiram reflexões universais sobre a história. Na Fenomenologia, na Estética, na História da Filosofia, por toda a parte perpassa esta grandiosa concepção da história e, por toda a parte, a matéria é tratada historicamente, numa conexão determinada, ainda que também abstratamente distorcida, com a história.”
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“Marx era, e é, o único que podia entregar-se ao trabalho de tirar da casca da lógica hegeliana o núcleo que encerra as descobertas reais de Hegel neste domínio e de restabelecer o método dialético, despido das suas roupagens idealistas, na forma simples em que ele se torna a única forma correta de desenvolvimento do pensamento. Consideramos a elaboração do método que está na base da crítica de Marx à Economia Política como um resultado que, pelo seu significado, em quase nada é inferior à visão materialista fundamental.”