quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Filosofia e Trabalho.


O Prof. Danilo Marcondes, em seu excelente livro “Iniciação da História da Filosofia”, convida a uma reflexão sobre um tema presente nas “revisitações” à obra do velho Karl: Marx seria um filósofo ? Resposta do Prof. Danilo: “Marx não deve ser considerado estritamente apenas um filósofo na acepção tradicional, mas um pensador que visava superar os limites excessivamente estreitos da filosofia, e a filosofia a ser superada era, especificamente, a de Hegel, com sua herança do Iluminismo e do racionalismo do século XVIII”. “A obra de Marx, conclui o Professor, inclui portanto, não só a filosofia, mas a história, a ciência política e  a economia, além de manifestos políticos e artigos em jornais que formam parte de sua militância política.”
Em relação à atitude de Marx frente à filosofia vale lembrar sua frase definitiva: “ A filosofia está para o saber real, como o onanismo para o sexo”.

E uma observação no Terceiro dos Manuscritos Econômicos-Filosóficos : “A grande realização de Feuerbach é ter mostrado a filosofia nada mais ser do que a religião trazida para o pensamento e desenvolvida por este, devendo ser igualmente condenada como outra forma e modo de existência da alienação humana;”
Segue transcrição de um trecho do livro do Prof. Marcondes, que situa a introdução do trabalho na filosofia, como uma inovação de Marx.

“A questão central da análise de Marx passa a ser portanto o trabalho, questão, aliás, praticamente ausente da análise dos filósofos desde a Antiguidade. O trabalho é uma relação invariante entre a espécie humana e seu ambiente natural, uma perpétua necessidade natural da vida humana. Esse sistema de ação, instrumental, contingente, surge na evolução da espécie, mas condiciona nosso conhecimento da natureza ao interesse no possível controle técnico dos processos naturais. O processo auto-formativo da espécie humana é condicionado. o que vai contra a ideia hegeliana de um movimento do Absoluto. Depende assim de condições contingentes da natureza. O Espírito não é como queria Hegel, o fundamento absoluto da natureza, mas, ao contrário, a natureza é o fundamento do 'Espírito', no sentido de um processo natural que dá origem ao ser humano e ao meio ambiente em que vive. Ao reproduzir a vida nessas condições naturais, a espécie humana regula sua relação material com a natureza através do trabalho, constituindo assim o mundo em que existimos. As formas específicas segundo as quais a natureza é objetificada mudam historicamente, dependendo da organização social do trabalho. Só temos acesso à natureza através de categorias que refletem a organização de nossa vida material. No processo de trabalho não só a natureza é alterada, mas o próprio homem que trabalha, não havendo assim uma essência humana fixa. 'A História é a verdadeira história natural do homem', diz Marx.


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