quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Oscar Niemeyer e o comunismo como valor.


Neste 5 de dezembro, em que o Brasil recebe a notícia da morte do genial Oscar Niemeyer, fica o registro de um texto de Leonardo Boff, com o titulo acima.

“Apesar dos abatimentos nacionais e internacionais deste agônico 2007, tivemos, no dia 15 de dezembro, uma discreta alegria: os cem anos de nosso maior arquiteto Oscar Niemeyer. Sua voz suave e cansada nos conclama para a solidariedade e para uma grande simplicidade de vida. 

Sua visão de mundo se funda no comunismo, ao qual foi fiel durante toda a vida, em tempos em contratempos,.
Mas trata-se de um comunismo como valor  ético que visa a resgatar da sociabilidade humana, a capacidade de sentir o outro e de caminhar com ele como companheiro e não como competidor. "É preciso olhar o outro, ser solidário; as pessoas que só pensam em suas profissões não vêem a pobreza; só querem ser vencedores".
Para ele o importante "não é ser arquiteto, ser especialista, ser mundialmente reconhecido. O importante é a vida e a amizade. A palavra mais importante da minha vida é solidariedade".
    
Essa solidariedade especialmente para com os pobres, o torna simples como simples são as suas formas arquitetônicas. Vive a verdadeira humildade de quem comunga do mesmo húmus (donde vem humildade):"todo mundo é igual; a pessoa vem à Terra, conta a sua historinha e vai embora". 
    

Nunca esquecerei uma longa conversa com ele durante um almoço em Petrópolis no final dos anos 70. Naquele dia acabava de retornar de Cuba. Eram ainda os tempos de relativa abundância, antes da queda da  União Soviética. Contava-lhe como era universal o sistema de saúde, como o ensino era aberto a todos, independentemente de sua extração social ou racial, como não se viam favelas na ilha  e como a população incorporara uma vida de austeridade compartilhada.
E referi-lhe as longas conversas com Fidel, noite a dentro, sobre religião e a teologia da libertação que tentava e ainda tenta fazer  do Cristianismo uma força de transformação histórica contra a pobreza e a marginalização social. Dizia-lhe citando Frei Betto: "Cuba parece uma Bahia que deu certo". Vi que Oscar ouvia tudo atentamente e seus olhos brilhavam de satisfação.


Qual não foi a minha surpresa quando dias após li na Folha de São Paulo um artigo dele sobre a nossa conversa com um desenho de sua autoria: duas montanhas uma das quais encimada por uma cruz. E lá dizia: "descendo a serra de Petrópolis, eu que não creio, rezava ao Deus de Frei Boff, para que aqueles benefícios que Cuba realizou para o seu povo, chegassem também, um dia,  ao povo brasileiro". 


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