Diversas
postagens foram feitas, aqui neste espaço, sobre uma das descobertas mais
fascinantes do velho Karl – o fetichismo da mercadoria. Reproduzi análises das
mais diversas tendências. Inclusive, ousei afirmar que a tese é precursora do marketing – o que provocou a ira de alguns marqueteiros amigos. Assim,
resolvi transcrever, nos próximos dias, a íntegra da Seção 4, do capítulo I do primeiro
volume do Capital. Esta 1ª parte se encerra com uma questão que convida à
leitura da sequência : “Donde provém, portanto, o caráter enigmático do produto do trabalho,
logo que ele assume a forma-mercadoria?”.
“A primeira vista, uma
mercadoria parece uma coisa trivial e que se compreende por si mesma. Pela
nossa análise mostramos que, pelo contrário, é uma coisa muito complexa, cheia
de subtilezas metafísicas e de argúcias teológicas. Enquanto valor-de-uso, nada
de misterioso existe nela, quer satisfaça pelas suas propriedades as
necessidades do homem, quer as suas propriedades sejam produto do trabalho
humano.
É evidente que a atividade do
homem transforma as matérias que a natureza fornece de modo a torná-las úteis.
Por exemplo, a forma da madeira é alterada, ao fazer-se dela uma mesa. Contudo,
a mesa continua a ser madeira, uma coisa vulgar, material. Mas a partir do
momento em que surge como mercadoria, as coisas mudam completamente de figura:
transforma-se numa coisa a um tempo palpável e impalpável. Não se limita a ter
os pés no chão; face a todas as outras mercadorias, apresenta-se, por assim
dizer, de cabeça para baixo, e da sua cabeça de madeira saem caprichos mais
fantásticos do que se ela começasse a dançar.
O caráter místico da mercadoria
não provém, pois, do seu valor-de-uso. Não provém tão pouco dos fatores
determinantes do valor. Com efeito, em primeiro lugar, por mais variados que
sejam os trabalhos úteis ou as atividades produtivas, é uma verdade fisiológica
que eles são, antes de tudo, funções do organismo humano e que toda a função
semelhante, quaisquer que sejam o seu conteúdo e a sua forma, é essencialmente
um dispêndio de cérebro, de nervos, de músculos, de órgãos, de sentidos, etc.,
do homem. Em segundo lugar, no que respeita àquilo que determina a grandeza do
valor - isto é, a duração daquele dispêndio ou a quantidade de trabalho -, não
se pode negar que essa quantidade de trabalho se distingue claramente da sua
qualidade.
Em todas as épocas sociais, o
tempo necessário para produzir os meios de subsistência interessou
necessariamente os homens, embora de modo desigual, de acordo com o estádio de
desenvolvimento da civilização. Enfim, desde que os homens trabalham uns para os outros,
independentemente da forma como o fazem, o seu trabalho adquire também uma
forma social.
Donde provém, portanto, o
caráter enigmático do produto do trabalho, logo que ele assume a forma-mercad
Pedindo, desde logo, vênia às opiniões contrárias -- e longe da pretensão de me aprofundar no tema, é bom que se diga --, ouso afirmar que a tese de que aqui se trata parece, s.m.j., ter [sim!] alguma ligação c/ o marketing. E o faço tendo como premissas (I) a experiência de uma união; e (II) o próprio conceito do termo "fetiche". Note-se, de início, que as mulheres -- em sua maior parte -- compram, v.g., roupas e bolsas, mais pelo status que tais produtos podem proporcionar-lhes, do que, efetivamente, por suas reais funções práticas. Afinal, qual seria a razão das gigantescas cifras investidas em marketing por marcas como, p.ex., Louis Vuitton, Gucci, Chanel, dentre outras? Não fosse o bastante, veja-se que, segundo a precisa definição de HOUAISS, "fetiche" nada mais é do que um "objeto a que se atribui poder mágico" (Minidicionário da língua portuguesa, 4ª ed., Objetiva, RJ, 2010, p. 358). Tout court! Assim -- e ainda voltado ao mercado da moda e às mulheres --, os produtos guardam -- de forma inegável -- "mágica", direta, e cara [rsrsrs] relação c/ seus consumidores.
ResponderExcluirÉ o que me parece.
Forte abraço,
BR
Caro BR,
ResponderExcluirCom certeza, a relação é "mágica", direta e cara ....( no maior das vezes caríssima). Vide a diferença de preço de duas bolsas exatamente iguais - uma com as letrinhas D&G ( Dolce e Gabana) e a outra sem o fetiche...