Em outubro de 1937, Trotsky escreve o prefácio da edição Sul-Africana do Manifesto de 1848 e faz uma serena e sensata revisão critica de partes do Manifesto. Neste 8º trecho selecionado, Trotsky fala do trecho que mais envelheceu no Manifesto. Lembra, ainda, que, “segundo Marx, nenhuma ordem social deixa a cena da História antes de haver esgotado todas as suas possibilidades”.
8. O trecho que mais envelheceu no Manifesto - não quanto a seu método, mas quanto a seus objetivos - é a crítica da literatura "socialista" da primeira metade do Século XIX (Capítulo 3) e a definição da posição dos comunistas em relação aos diversos partidos de oposição <Capítulo 4g. As tendências e os partidos enumerados pelo texto foram varridos tão radicalmente pela revolução de 1848, ou pela contra-revolução que se seguiu, que a História já não os menciona sequer. Entretanto, mesmo com respeito a este trecho, o Manifesto encontra-se mais próximo de nós do que o estava em relação à geração anterior. Na época de prosperidade da II internacional, quando o marxismo parecia reinar absolutamente no movimento operário, as idéias do socialismo anteriores a Marx podiam ser consideradas como definitivamente ultrapassadas. Hoje isso já não é mais verdade. A decadência da social-democracia e da Internacional Comunista provoca, a cada passo, monstruosas recaídas ideológicas. O pensamento senil recai, por assim dizer, na infância. À procura de fórmulas salvadoras, os profetas da época de declínio geral do capitalismo redescobrem doutrinas há muito enterradas pelo socialismo científico.
No que diz respeito ao problema dos partidos de oposição, as décadas que nos separam do Manifesto provocaram as mais profundas mudanças: não apenas os velhos partidos foram há muito substituídos por novos, como também o próprio caráter dos partidos e de suas mútuas relações modificou-se radicalmente. Sob as condições da época imperialista, o Manifesto, portanto, deve ser complementado pelos documentos dos quatro primeiros congressos da Internacional Comunista, pela literatura fundamental do bolchevismo e pelas decisões das conferências do movimento pela IV Internacional.
Lembramos acima que, segundo Marx, nenhuma ordem social deixa a cena da História antes de haver esgotado todas as suas possibilidades. Entretanto, uma ordem social, mesmo já tendo caducado, não cede seu lugar sem opor resistência a uma nova ordem. A sucessão dos regimes sociais supõe a mais áspera luta de classes, isto é a revolução. Se o proletariado, por uma razão ou outra, se mostra incapaz de derrubar a ordem burguesa que sobrevive, não resta ao capital financeiro, em luta para manter seu domínio abalado, senão transformar a pequena burguesia, por ele levada ao desespero e à desmoralização, no exército de terror do fascismo. A degeneração burguesa da social-democracia e a degeneração fascista da pequena burguesia estão entrelaçadas como causa e efeito.
Diz Trotsky que o marxismo é a teoria do movimento, não da estagnação. O próprio Engels, cit. p. Lênin, diz que nossa teoria não é um dogma mas um guia para a ação.
ResponderExcluirÉ importante ter em vista isso. O marxismo cristalizado é, justamente, a negação do próprio marxismo- que é rico, aberto, dialético.
Por outro lado, deve-se tomar muito cuidado, penso eu, com tentativas de rever ou atualizar Marx. São dois extremos a ser evitados: o revisionismo, pela direita, e o esquerdismo, no extremo oposto.
De resto, interessante seu blog; seria melhor, todavia, se acrescentasse suas próprias considerações pessoais, para que melhor conhecêssemos a visão do autor do blog.
Saludos marxistas,
Prezado J.L,
ResponderExcluirVc tem toda a razão. Não pretendo "rever" nem "atualizar"o velho Karl. Até pq, concordo com Hobsbawm, a teoria marxista é finita - já fiz uma postagem sobre o tema. A seleção dos temas e as introduções revelam a minha visão sobre o "marxismo" ( existe?)A partir da postagem 100, que deve acontecer em 3 de maio, vou ampliar as "considerações pessoais". Agradeço os seus procedentes comentários.
Saludos Marxistas
Elysio