Em comemoração ao centenário de nascimento de Marx, em 1918, Gramsci escreve um texto - Marx e o Reino da Consciência - que merece uma reflexão, decorrido quase um século.
“Marx não escreveu um catecismo, não é um messias que tenha deixado uma fieira de parábolas carregadas de imperativos categóricos, de normas indiscutíveis, absolutas, fora das categorias do tempo e do espaço. Seu único imperativo categórico, sua única norma é: "Proletários do mundo inteiro, uni-vos." Portanto, a discriminação entre marxistas e não marxistas teria de consistir no dever da organização e da propaganda, no dever de organizar-se e associar-se. Isto é muito e, ao mesmo tempo, muito pouco: quem não seria marxista? E, sem dúvida, assim são as coisas: todos são um pouco marxistas sem o saber. Marx foi grande e sua ação foi fecunda não porque tenha inventado a partir do nada, não por haver engendrado com sua fantasia uma original visão da história, mas porque com ele o fragmentário, o irrealizado, o imaturo, se fez maturidade, sistema, consciência. Sua consciência pessoal pode converter-se na de todos, e já é de muitos; por isso Marx não é apenas um cientista, mas também um homem de ação; é grande e fecundo na ação da mesma forma que no pensamento, e seus livros transformaram o mundo, assim como transformaram o pensamento.”
Pior [ou melhor!] é que sim. Todos somos algo marxistas, ainda que inconscientemente. Imagine, sobretudo, aqueles [muitos] brasileiros que não tiveram acesso à cultura ou, sequer, alfabetizados foram, não tendo tomado conhecimento, portanto, da existência do velho e bom Karl. Eles, em inúmeros casos, não deixam, no entanto, de formar grupos organizados com a finalidade precípua de protestar [no bom sentido do termo] por seus direitos. É o caso, v.g., da maioria dos integrantes do MST, os quais [muito provavelmente] ainda não tiveram a oportunidade de ouvir o nome de Marx, quiçá ler alguma de suas obras. Logo, salvo melhor juízo, acho que Gramsci foi muito feliz em seu pensamento. Bela postagem, caro Elysio. Abraço forte,
ResponderExcluir"com ele o fragmentário, o irrealizado, o imaturo, se fez maturidade, sistema, consciência"
ResponderExcluirJá estava tudo aí- o grande mérito de Marx foi levantar o véu. Pegar a dialética de Hegel e virá-la de cabeça para baixo, afinal, "se vai da Terra ao Céu", e não o contrário.
Prezado J.L,
ResponderExcluirMuito oportuno. Realmente Marx foi um "levantador de véus".... Em relação ao mestre Hegel, confesso a vc que comecei a ler recentemente e estou tendo um impacto semelhante ao do jovem Karl quando chegou na faculdade e se alinhou com os hegelianos de esquerda.Confesso que estou indo do "Céu pra Terra"......
elysio