quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O Marx de Althusser


Obra inacabada, o marxismo permite leituras e releituras ao sabor das tendências ideológicas de cada intérprete. Nem o final melancólico de 1989/91 impediu delírios do tipo Cuba, Coréia do Norte e, aqui na Terra, o PC do B. Como afirmam os autores de “História das Ideias Políticas” , as tentativas de interpretação “ só podem ser julgadas em função do projeto próprio que as anima, em sua época e em suas circunstâncias políticas”
(marxrevisitado.blogspot.com/2010/12/marxismos.html).
Assim, os “marxismos” são muitos. Selecionei um trecho de texto de Hobsbawm, de 1966 – publicado em “Revolucionários”, Paz e Terra,2003 – onde ele faz uma crítica sutil ( sutil?) ao marxismo de Louis Althusser. Althusser, segundo Hobsbawn, “abandonou as sombras da grande École Normal Supérieure da Rue d’Ulm para a ribalta da celebridade no 5º e 6º arrondissements”.
Vamos ao trecho selecionado:

“ ....o reflorescimento do marxismo requer uma disposição genuína para ver o que Marx procurava fazer, ainda que isto não implique em concordância com todas as suas afirmações. O marxismo, que é ao mesmo tempo um método, um corpo de pensamento teórico e um conjunto de textos considerados por seus seguidores como fonte de autoridade, sempre sofreu com a tendência dos marxistas de começar por decidir o que pensam que Marx deveria ter dito e depois procurar a confirmação, nos textos, dos pontos de vista escolhidos. Tal ecletismo tem sido normalmente compensado por estudo sério da evolução do próprio pensamento de Marx. A descoberta de Althusser de que o mérito de Marx se encontra não tanto em seus próprios escritos, mas em permitir que o próprio Althusser diga o que ele deveria ter dito, suprime esta compensação. É de se temer que ele não seja o único teórico a substituir o verdadeiro Marx por um outro, de sua própria criação. Se o Marx althusseriano, ou outra construção análoga, pode se tornar tão interessante quanto o Marx original, é uma questão completamente distinta.

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