domingo, 18 de dezembro de 2016

A Sociedade do Consumo, em 1867.

No prefácio da 1ª edição de O Capital (1867), Marx reconhece as dificuldades que seus leitores  teriam para compreender o primeiro capítulo, dedicado à mercadoria. Uma dificuldade que mesmo seus seguidores mais devotados não conseguiram superar, no século seguinte. Nesta 1ª edição, não havia a separação em seções. Talvez para evitar titular a seção  4 – “O fetichismo da mercadoria e o seu segredo”. Um “misticismo hegeliano”, segundo Althusser, que sugeriu pular a leitura do capitulo, no prefácio da edição francesa. E por falar em edição francesa, vale lembrar a carta de Marx ao editor da edição em fascículos (1872) onde ele adverte: “o método de análise que eu usei, e que ainda não tinha sido aplicado a assuntos econômicos, torna muito difícil a leitura dos primeiros capítulos...”.
Enquanto os economistas clássicos, de Adam Smith a Ricardo, ficaram na produção, Karl antecipou a sociedade do consumo. Segue o trecho do prefácio ( a ) e a abertura da seção 4 ( b) .
a)    “Todo o começo é difícil — isto vale em qualquer ciência. A compreensão do primeiro capítulo, nomeadamente da secção que contém a análise da mercadoria, constituirá, portanto, a maior dificuldade. Tornei o mais possível popular aquilo que mais de perto diz respeito à análise da substância do valor e da magnitude do valor. A forma-valor, cuja figura acabada é a forma-dinheiro, é muito simples e vazia de conteúdo. Não obstante, o espírito humano, desde há mais de 2000 anos, tem em vão procurado sondar-lhe os fundamentos, enquanto, por outro lado, a análise de formas muito mais plenas de conteúdo e complicadas pelo menos aproximadamente resultou. Porquê? Porque o corpo [já] formado é mais fácil de estudar do que a célula do corpo. Além disso, na análise das formas económicas não podem servir nem o microscópio nem os reagentes químicos. A força da abstração tem de os substituir a ambos. Para a sociedade burguesa, porém, a forma-mercadoria do produto de trabalho ou a forma-valor da mercadoria é a forma económica celular. Ao não instruído a análise desta parece perder-se em meras sutilezas. Trata-se aqui de facto de sutilezas, só que, porém, do mesmo modo que delas se trata na anatomia micrológica.”
b)    A primeira vista, uma mercadoria parece uma coisa trivial e que se compreende por si mesma. Pela nossa análise mostramos que, pelo contrário, é uma coisa muito complexa, cheia de subtilezas metafísicas e de argúcias teológicas.”


Nenhum comentário:

Postar um comentário