No prefácio da 1ª edição de O
Capital (1867), Marx reconhece as dificuldades que seus leitores teriam para compreender o primeiro capítulo,
dedicado à mercadoria. Uma dificuldade que mesmo seus seguidores mais devotados
não conseguiram superar, no século seguinte. Nesta 1ª edição, não havia a
separação em seções. Talvez para evitar titular a seção 4 – “O fetichismo da mercadoria e o seu
segredo”. Um “misticismo hegeliano”, segundo Althusser, que sugeriu pular a
leitura do capitulo, no prefácio da edição francesa. E por falar em edição
francesa, vale lembrar a carta de Marx ao editor da edição em fascículos (1872)
onde ele adverte: “o método de análise que eu usei,
e que ainda não tinha sido aplicado a assuntos econômicos, torna muito difícil
a leitura dos primeiros capítulos...”.
Enquanto os
economistas clássicos, de Adam Smith a Ricardo, ficaram na produção, Karl
antecipou a sociedade do consumo. Segue o trecho do prefácio ( a ) e a abertura
da seção 4 ( b) .
a)
“Todo o começo é difícil — isto vale em qualquer ciência. A
compreensão do primeiro capítulo, nomeadamente da secção que contém a análise
da mercadoria, constituirá, portanto, a maior dificuldade. Tornei o mais
possível popular aquilo que mais de perto diz respeito à análise da substância
do valor e da magnitude do valor. A
forma-valor, cuja figura acabada é a forma-dinheiro, é muito simples e vazia de
conteúdo. Não obstante, o espírito humano, desde há mais de 2000 anos, tem em
vão procurado sondar-lhe os fundamentos, enquanto, por outro lado, a análise de
formas muito mais plenas de conteúdo e complicadas pelo menos aproximadamente
resultou. Porquê? Porque o corpo [já] formado é mais fácil de estudar do que a
célula do corpo. Além disso, na análise das formas económicas não podem servir
nem o microscópio nem os reagentes químicos. A força da abstração tem de os
substituir a ambos. Para a sociedade burguesa, porém, a forma-mercadoria do
produto de trabalho ou a forma-valor da mercadoria é a forma económica celular.
Ao não instruído a análise desta parece perder-se em meras sutilezas. Trata-se
aqui de facto de sutilezas, só que, porém, do mesmo modo que delas se trata na
anatomia micrológica.”
b)
“A
primeira vista, uma mercadoria parece uma coisa trivial e que se compreende por
si mesma. Pela nossa análise mostramos que, pelo contrário, é uma coisa muito
complexa, cheia de subtilezas metafísicas e de argúcias teológicas.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário