Em dezembro de
1848, Marx publica no Nova Gazeta Renana, uma brilhante análise do
comportamento revolucionário da burguesia nas revoluções de 1648 e de 1789.
Segue um trecho.
“Não se pode confundir a revolução
prussiana de Março, nem com a revolução inglesa de 1648, nem com a
francesa de 1789.
Em 1648, a burguesia estava ligada à
nobreza moderna contra a realeza, contra a nobreza feudal e contra a Igreja
dominante.
Em 1789, a burguesia estava ligada ao povo
contra realeza, nobreza e Igreja dominante.
A revolução de 1789 tinha por modelo (pelo
menos, na Europa) apenas a revolução de 1648, a revolução de 1648 apenas a
insurreição dos Países Baixos contra a Espanha. Ambas as revoluções estavam
avançadas um século, não apenas pelo tempo, mas também pelo conteúdo,
relativamente aos seus modelos.
Em ambas as revoluções, a burguesia era a
classe que realmente se encontrava à cabeça do movimento. O proletariado
e as frações da população urbana não pertencentes à burguesia não
tinham ainda quaisquer interesses separados da burguesia ou não constituíam
ainda quaisquer classes, ou sectores de classes, autonomamente desenvolvidas.
Portanto, ali onde se opuseram à burguesia, como, por exemplo, de 1793 até
1794, na França, apenas lutaram pela perseguição dos interesses da burguesia, ainda que não à
maneira da burguesia. Todo o terrorismo francês não foi mais do que
uma maneira plebeia de se desfazer dos inimigos da burguesia, do
absolutismo, do feudalismo e da tacanhez pequeno-burguesa.
As revoluções de 1648 e de 1789 de modo
algum foram revoluções inglesas ou francesas, foram revoluções de estilo europeu. Não
foram a vitória de uma classe determinada da sociedade sobre a velha
ordem política; foram a proclamação da ordem política para a nova sociedade
europeia.
Nelas, a burguesia venceu; mas a vitória
da burguesia foi então a vitória de uma nova ordem social, a vitória
da propriedade burguesa sobre a feudal, da nacionalidade sobre o
provincianismo, da concorrência sobre a corporação, da divisão [da propriedade]
sobre o morgadio, da dominação do proprietário da terra sobre o domínio do
proprietário pela terra, das luzes sobre a superstição, da família sobre o nome
de família, da indústria sobre a preguiça heróica, do direito burguês sobre os
privilégios medievais.
A revolução de 1648 foi a vitória do século
XVII sobre o século XVI, a revolução de 1789 a vitória do século XVIII sobre o
século XVII. Estas revoluções exprimem mais ainda as necessidades do mundo de
então do que das regiões do mundo em que se deram, a Inglaterra e a França.”
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