Passados 33 anos da primeira
edição do “18 Brumário de Louis Bonaparte”, Engels prefacia a terceira edição
alemã, em 1885. No texto, compara a “lei” da luta de classes à lei da
transformação de energia – uma atitude “iluminista” que colocava a ciência como
dominante na hierarquia das atividades humanas. Uma postura presente em toda o
obra de Marx – vide o “socialismo científico” em oposição ao “socialismo
utópico”, de Proudhon. Esta obsessão “cientifista”
está longe de ser uma exclusividade de Marx – que ficou fascinado com a “Origem
das Espécies”, de Darwin – e está presente em todo o pensamento de vanguarda do
século 19, inclusive no Positivismo de Comte e mesmo no Espiritismo de Kardec.
A seguir, o trecho selecionado.
“A França é o país em que as lutas históricas
de classes sempre foram levadas mais do que em nenhum outro lugar ao seu termo
decisivo e onde, portanto, as formas políticas mutáveis dentro das quais se
movem estas lutas de classes e nas quais se assumem os seus resultados,
adquirem os contornos mais ousados. Centro do feudalismo na Idade Média e país
modelo da monarquia unitária de estados desde o Renascimento a
França demoliu o feudalismo na grande revolução e fundou a dominação pura da
burguesia sob uma forma clássica como nenhum outro país da Europa. Também a
luta do proletariado cada vez mais vigoroso contra a burguesia dominante
reveste aqui uma forma aguda, desconhecida noutras partes. Esta foi a razão por
que Marx não só estudava com especial predileção a história passada francesa,
mas também seguia em todos os seus pormenores a história em curso, reunindo os
materiais para os empregar posteriormente, e portanto nunca se via surpreendido
pelos acontecimentos.
Mas a isto veio acrescentar-se
outra circunstância. Foi precisamente Marx quem primeiro descobriu a grande lei
do movimento da história, a lei segundo a qual todas as lutas históricas, quer
se desenvolvam no terreno político, no religioso, no filosófico ou noutro terreno
ideológico qualquer, não são, na realidade, mais do que a expressão mais ou
menos clara de lutas de classes sociais, e que a existência destas classes, e
portanto também as colisões entre elas, são condicionadas, por sua vez, pelo
grau de desenvolvimento da sua situação econômica, pelo caráter e pelo modo da
sua produção e da sua troca, condicionada por estes. Foi também esta lei, que
tem para a história o mesmo significado que a lei da transformação da energia
para a Ciência da Natureza, que lhe deu aqui a chave para a compreensão da
história da Segunda República francesa. Esta história serviu-lhe para pôr à
prova a sua lei, e mesmo trinta e três anos depois, temos ainda que dizer que
esta prova foi brilhantemente passada. “