Denis Collin, em seu “Compreender
Marx”, entra em algumas polêmicas sobre a natureza da moeda e faz uma afirmativa ousada: “ Veremos sem
dúvida alguns paradoxos curiosos, Marx está certamente muito mais próximo do
monetarismo de um Milton Friedman que dos keynesianos de esquerda”.
terça-feira, 27 de dezembro de 2016
domingo, 18 de dezembro de 2016
A Sociedade do Consumo, em 1867.
No prefácio da 1ª edição de O
Capital (1867), Marx reconhece as dificuldades que seus leitores teriam para compreender o primeiro capítulo,
dedicado à mercadoria. Uma dificuldade que mesmo seus seguidores mais devotados
não conseguiram superar, no século seguinte. Nesta 1ª edição, não havia a
separação em seções. Talvez para evitar titular a seção 4 – “O fetichismo da mercadoria e o seu
segredo”. Um “misticismo hegeliano”, segundo Althusser, que sugeriu pular a
leitura do capitulo, no prefácio da edição francesa. E por falar em edição
francesa, vale lembrar a carta de Marx ao editor da edição em fascículos (1872)
onde ele adverte: “o método de análise que eu usei,
e que ainda não tinha sido aplicado a assuntos econômicos, torna muito difícil
a leitura dos primeiros capítulos...”.
Enquanto os
economistas clássicos, de Adam Smith a Ricardo, ficaram na produção, Karl
antecipou a sociedade do consumo. Segue o trecho do prefácio ( a ) e a abertura
da seção 4 ( b) .
a)
“Todo o começo é difícil — isto vale em qualquer ciência. A
compreensão do primeiro capítulo, nomeadamente da secção que contém a análise
da mercadoria, constituirá, portanto, a maior dificuldade. Tornei o mais
possível popular aquilo que mais de perto diz respeito à análise da substância
do valor e da magnitude do valor. A
forma-valor, cuja figura acabada é a forma-dinheiro, é muito simples e vazia de
conteúdo. Não obstante, o espírito humano, desde há mais de 2000 anos, tem em
vão procurado sondar-lhe os fundamentos, enquanto, por outro lado, a análise de
formas muito mais plenas de conteúdo e complicadas pelo menos aproximadamente
resultou. Porquê? Porque o corpo [já] formado é mais fácil de estudar do que a
célula do corpo. Além disso, na análise das formas económicas não podem servir
nem o microscópio nem os reagentes químicos. A força da abstração tem de os
substituir a ambos. Para a sociedade burguesa, porém, a forma-mercadoria do
produto de trabalho ou a forma-valor da mercadoria é a forma económica celular.
Ao não instruído a análise desta parece perder-se em meras sutilezas. Trata-se
aqui de facto de sutilezas, só que, porém, do mesmo modo que delas se trata na
anatomia micrológica.”
b)
“A
primeira vista, uma mercadoria parece uma coisa trivial e que se compreende por
si mesma. Pela nossa análise mostramos que, pelo contrário, é uma coisa muito
complexa, cheia de subtilezas metafísicas e de argúcias teológicas.”
sábado, 17 de dezembro de 2016
Carta de Henrietta a seu filho Marx.
Em 1836, estudante de
direito em Bonn, o jovem Karl recebe carta com recomendações maternas:
"Você não deve
considerar de modo algum uma fraqueza feminina se eu agora estiver curiosa para
saber como tem administrado sua vida doméstica, se a economia representa também
algum papel, o que é uma necessidade inevitável tanto para grandes como para
pequenas casas.
Permito-me assim
observar, querido Karl, que você nunca deve considerar limpeza e ordem coisas
secundárias, pois disso depende a saúde e o bem-estar.
Observe rigorosamente
que seu quarto seja lavado.
E
lave-se você também, querido Karl, semanalmente com esponja e sabonete."
sexta-feira, 16 de dezembro de 2016
Hobsbawn e a forma final do socialismo.
Em 1987, 2
anos antes da queda do muro, Hobsbawm publica o texto “Proposta para uma
sociedade boa” onde faz um apelo para a esquerda “repensar o socialismo a
sério”. Selecionei um pequeno trecho para reflexão.
“O
socialismo é um instrumento, não um programa, e tudo que podemos dizer sobre a
forma final que o socialismo teria no futuro é que, tal como Karl Marx, não
sabemos. Qualquer tentativa de elaborar o mapa da utopia em meio às linhas
daquilo que consideramos desejável, no momento, deve fracassar (exceto, talvez,
para certos tipos de comunidades pequenas inteiramente autocontidas).”
segunda-feira, 12 de dezembro de 2016
O Capital em fascículos.
Em agosto de
1872, 5 anos após a publicação em alemão, O Capital é traduzido para o francês
por Joseph Roy e publicado em 44 fascículos, vendidos a 10 centavos a unidade.
Marx fica
sensibilizado pela iniciativa do editor Maurice Lachâtre e escreve carta a seguir transcrita, em sua versão
original.
Uma
curiosidade: Lachâtre era amigo pessoal de Allan Kardec e ambos seguidores do
socialismo de Proudhon.
Londres,
18 mars 1872.
Au
citoyen Maurice Lachâtre
Cher
citoyen,
J’applaudis
à votre idée de publier la traduction de Das Capital en livraisons périodiques.
Sous cette forme, l’ouvrage sera plus accessible à la classe ouvrière et, pour
moi, cette considération l’emporte sur toute autre.
Voilà
le beau côté de votre médaille, mais en voici le revers: la méthode d’analyse
que j’ai employée, et qui n’avait pas encore été appliquée aux sujets
économiques, rend assez ardue la lecture des premiers chapitres, et il est à
craindre que le public français toujours impatient de conclure, avide de
connaître le rapport des principes généraux avec les questions immédiates qui
le passionnent, ne se rebute parce qu’il n’aura pu tout d’abord passer outre.
C’est
là un désavantage contre lequel je ne puis rien si ce n’est toutefois prévenir
et prémunir les lecteurs soucieux de vérité. Il n’y a pas de route royale pour
la science, et ceux-là seulement ont chance d’arriver à ses sommets lumineux
qui ne craignent pas de se fatiguer à gravir ses sentiers escarpés.
Recevez,
cher citoyen, l’assurance de mes sentiments dévoués.
Karl
Marx.
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