A introdução de Robert S.
Hartman à “Razão da História”, de Hegel, faz uma criativo resumo das
transformações do mundo do nascimento à morte do autor.
“Poderemos encontrar as muitas
influências da filosofia de Hegel indicadas na constelação histórica no ano
de seu nascimento, 1770. Naquele ano, Maria Antonieta, a radiante arquiduquesa da
Áustria, casava-se com o apático delfim da França. Em Ajácio, Napoleão, o
segundo filho de Letícia Bonaparte, acabava de aprender a andar. O capitão
Cook completava sua primeira viagem em torno do mundo. Em Boston,
Massachusetts, nos Estados Unidos, alguns soldados ingleses atiraram em uma
multidão de colonos. Em Kõnigsberg, na Alemanha, um idoso Privatdozent (
livre-docente), chamado Immanuel Kant, lia uma dissertação a respeito da
forma e dos princípios dos mundos da inteligência e da sensibilidade e da situação
do homem entre ambos. No outro lado da Alemanha, em Estrasburgo, um jovem
estudante, Goethe, escreveu alguns poemas que varreram toda a Alemanha para
dentro de seu amor sensual por Friederike de Sesenheim. Um pouco mais tarde o
romance de seu segundo amor, Os sofrimentos do jovem Werther, varria o
mundo inteiro, até a China, em uma onda de suicídios românticos. Na França,
naquele mesmo ano, o barão de Holbach publicou um tratado mostrando que o
mundo, longe de ser um lugar romântico, nada era senão um grande mecanismo
automático. Quando Hegel morreu em 1831, o corpo decapitado de Maria Antonieta
jazia numa vala comum em Paris. Napoleão e a Revolução haviam percorrido
seus caminhos. Os ingleses e a revolução de Metternich haviam se encarregado
do grande homem. A república norte-americana tomara seu lugar entre as
potências e seus navios velozes percorriam os Sete Mares. Goethe serenamente
observava uma vida de mil conflitos fundida em forma clássica e selava seu
épico de Fausto, o homem universal que transcende o mundo da sensualidade.
Holbach estava fora de moda, mas um garoto de treze anos em Trier, Karl Marx,
nascido no ano em que Hegel se tornara professor de filosofia na Universidade
de Berlim, já começava a descobrir a filosofia – que significava Hegel – e
logo iria ressuscitar Holbach em uma forma mais dinâmica do que todo o
romantismo e que varreria o mundo, até a China, com uma paixão do intelecto
mais poderosa do que qualquer coisa que Werther tenha conhecido.