domingo, 5 de abril de 2015

As revoluções de 1648 e 1789.

Em 15 de dezembro de 1848, Marx publica um instigante artigo na Nova Gazeta Renana com o título  “A Burguesia e a contrarrevolução”. Selecionei um trecho sobre as revoluções de 1648 e 1789.
“Em 1648, a burguesia estava ligada à nobreza moderna contra a realeza, contra a nobreza feudal e contra a Igreja dominante.
Em 1789, a burguesia estava ligada ao povo contra realeza, nobreza e Igreja dominante.
A revolução de 1789 tinha por modelo (pelo menos, na Europa) apenas a revolução de 1648, a revolução de 1648 apenas a insurreição dos Países Baixos contra a Espanha ( * ) Ambas as revoluções estavam avançadas um século, não apenas pelo tempo, mas também pelo conteúdo, relativamente aos seus modelos.
Em ambas as revoluções, a burguesia era a classe que realmente se encontrava à cabeça do movimento. O proletariado e as frações da população urbana não pertencentes à burguesia não tinham ainda quaisquer interesses separados da burguesia ou não constituíam ainda quaisquer classes, ou setores de classes, autonomamente desenvolvidas. Portanto, ali onde se opuseram à burguesia, como, por exemplo, na França de 1793 até 1794, apenas lutaram pela prossecução dos interesses da burguesia, ainda que não à maneira da burguesia. Todo o terrorismo francês não foi mais do que uma maneira plebeia de se desfazer dos inimigos da burguesia, do absolutismo, do feudalismo e da tacanhez pequeno-burguesa.
As revoluções de 1648 e de 1789 de modo algum foram revoluções inglesas ou francesas, foram revoluções de estilo europeu. Não foram a vitória de uma classe determinada da sociedade sobre a velha ordem política; foram a proclamação da ordem política para a nova sociedade europeia. Nelas, a burguesia venceu; mas a vitória da burguesia foi então a vitória de uma nova ordem social, a vitória da propriedade burguesa sobre a feudal, da nacionalidade sobre o provincianismo, da concorrência sobre a corporação, da divisão [da propriedade] sobre o morgadio, da dominação do proprietário da terra sobre o domínio do proprietário pela terra, das luzes sobre a superstição, da família sobre o nome de família, da indústria sobre a preguiça heroica, do direito burguês sobre os privilégios medievais. A revolução de 1648 foi a vitória do século XVII sobre o século XVI, a revolução de 1789 a vitória do século XVIII sobre o século XVII. Estas revoluções exprimem mais ainda as necessidades do mundo de então do que das regiões do mundo em que se deram, a Inglaterra e a França.”


( * ) Trata-se da revolução burguesa de 1566-1609 nos Países Baixos (atualmente Bélgica e Holanda), que faziam parte do Estado espanhol; a revolução combinou a luta da burguesia e das massas populares contra o feudalismo com a guerra de libertação nacional contra o domínio espanhol. Em 1609, após uma série de derrotas, a Espanha foi obrigada a reconhecer a independência da República Holandesa burguesa. A revolução burguesa dos Países Baixos no século XVI abriu a época das revoluções burguesas vitoriosas na Europa. O território da Bélgica atual permaneceu nas mãos dos espanhóis até 1714.

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