segunda-feira, 27 de abril de 2015

Carta de Jenny ao jovem hegeliano Marx

Trier, 10 de agosto de 1841

Meu pequeno negro selvagem,
Estou tão feliz por você estar feliz e por saber que minha carta te alegra, que está torcendo por mim, que está morando em quartos de papel de parede, que bebeu champanhe em Colônia, que existem sociedades de Hegel aí, que você vem sonhando e que, resumindo, você é meu, meu amor, meu querido negro selvagem. Mas apesar de tudo isso, de uma coisa eu senti falta: você poderia ter elogiado um pouco o meu grego e dedicado um pequeno artigo louvando a minha erudição. Mas vocês são assim mesmo, vocês, cavalheiros hegelianos, não reconhecem coisa alguma, é o cúmulo da superioridade, tudo tem de ser exatamente como vocês pensam, e por isso mesmo eu devo ser modesta e descansar sobre meus próprios louros.


domingo, 5 de abril de 2015

As revoluções de 1648 e 1789.

Em 15 de dezembro de 1848, Marx publica um instigante artigo na Nova Gazeta Renana com o título  “A Burguesia e a contrarrevolução”. Selecionei um trecho sobre as revoluções de 1648 e 1789.
“Em 1648, a burguesia estava ligada à nobreza moderna contra a realeza, contra a nobreza feudal e contra a Igreja dominante.
Em 1789, a burguesia estava ligada ao povo contra realeza, nobreza e Igreja dominante.
A revolução de 1789 tinha por modelo (pelo menos, na Europa) apenas a revolução de 1648, a revolução de 1648 apenas a insurreição dos Países Baixos contra a Espanha ( * ) Ambas as revoluções estavam avançadas um século, não apenas pelo tempo, mas também pelo conteúdo, relativamente aos seus modelos.
Em ambas as revoluções, a burguesia era a classe que realmente se encontrava à cabeça do movimento. O proletariado e as frações da população urbana não pertencentes à burguesia não tinham ainda quaisquer interesses separados da burguesia ou não constituíam ainda quaisquer classes, ou setores de classes, autonomamente desenvolvidas. Portanto, ali onde se opuseram à burguesia, como, por exemplo, na França de 1793 até 1794, apenas lutaram pela prossecução dos interesses da burguesia, ainda que não à maneira da burguesia. Todo o terrorismo francês não foi mais do que uma maneira plebeia de se desfazer dos inimigos da burguesia, do absolutismo, do feudalismo e da tacanhez pequeno-burguesa.
As revoluções de 1648 e de 1789 de modo algum foram revoluções inglesas ou francesas, foram revoluções de estilo europeu. Não foram a vitória de uma classe determinada da sociedade sobre a velha ordem política; foram a proclamação da ordem política para a nova sociedade europeia. Nelas, a burguesia venceu; mas a vitória da burguesia foi então a vitória de uma nova ordem social, a vitória da propriedade burguesa sobre a feudal, da nacionalidade sobre o provincianismo, da concorrência sobre a corporação, da divisão [da propriedade] sobre o morgadio, da dominação do proprietário da terra sobre o domínio do proprietário pela terra, das luzes sobre a superstição, da família sobre o nome de família, da indústria sobre a preguiça heroica, do direito burguês sobre os privilégios medievais. A revolução de 1648 foi a vitória do século XVII sobre o século XVI, a revolução de 1789 a vitória do século XVIII sobre o século XVII. Estas revoluções exprimem mais ainda as necessidades do mundo de então do que das regiões do mundo em que se deram, a Inglaterra e a França.”


( * ) Trata-se da revolução burguesa de 1566-1609 nos Países Baixos (atualmente Bélgica e Holanda), que faziam parte do Estado espanhol; a revolução combinou a luta da burguesia e das massas populares contra o feudalismo com a guerra de libertação nacional contra o domínio espanhol. Em 1609, após uma série de derrotas, a Espanha foi obrigada a reconhecer a independência da República Holandesa burguesa. A revolução burguesa dos Países Baixos no século XVI abriu a época das revoluções burguesas vitoriosas na Europa. O território da Bélgica atual permaneceu nas mãos dos espanhóis até 1714.

sábado, 4 de abril de 2015

A pacífica revolução inglesa.

Em 1886 – 3 anos após a morte de Marx -, Engels escreve o prefácio da primeira edição inglesa de O Capital e, no último parágrafo, reafirma a tese de Marx de que a Inglaterra reunia todas as condições para realizar, pacificamente, a revolução social.
“Certamente, em tal altura, terá de se ouvir a voz de um homem cuja teoria toda é o resultado do estudo, durante uma vida inteira, da história económica e da situação da Inglaterra, e a quem esse estudo levou à conclusão de que, pelo menos na Europa, a Inglaterra é o único país onde a inevitável revolução social pode ser efetuada inteiramente por meios pacíficos e legais. Certamente que ele nunca se esqueceu de acrescentar que dificilmente esperava que as classes dominantes Inglesas se submetessem a esta revolução pacífica e legal sem uma “pro-slavery rebellion”.
5 de Novembro de 1886
Frederick Engels


sexta-feira, 3 de abril de 2015

A revolução social na Inglaterra de 1870.

Em março de 1870, Marx  escreve na revista Die Neue Zeit, um artigo sobre as pré-condições para a revolução inglesa. Seguem dois trechos.
“Apesar da iniciativa revolucionária vir efetivamente da França, somente a Inglaterra pode servir de alavanca para uma revolução econômica séria. É o único país onde já não existem mais camponeses e onde a propriedade fundiária está concentrada em poucas mãos. É o único país onde a forma capitalista — quer dizer: o trabalho combinado em grande escala sob empresários capitalistas — se apoderou de quase toda a produção. É o único país em que a grande maioria da população consiste em trabalhadores assalariados (wages labourers). É o único país onde a luta de classes e a organização da classe operária pelas Trade Unions alcançou um certo grau de maturidade e de universalidade.
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“Os ingleses dispõem de todos os pressupostos materiais necessários para uma revolução social. Aquilo que lhes falta é o espírito de generalização e a paixão revolucionária.”


quinta-feira, 2 de abril de 2015

Marx e a entrevista ao The Chicago Tribune. 6/6


Em dezembro de 1878, aos 60 anos, Marx concede longa entrevista ao correspondente do The Chicago Tribune. Reservei para a última postagem os objetivos do socialismo, aprovados no Congresso Socialista de Gotha, em maio de 1875.
“Quando chega ao seu tema predileto, o socialismo, não se lança a tiradas melodramáticas que lhe são geralmente atribuídas. Atém-se a seus planos utópicos de "emancipação do gênero humano" com uma gravidade e uma energia que demonstram que está convencido de que suas teorias se realizarão um dia, no próximo, se não for neste século.”
Marx relaciona para o repórter uma “clara e concisa exposição dos objetivos do socialismo”:
a)Sufrágio universal, igual, direto, secreto e obrigatório para todos os cidadãos maiores de vinte anos e para todas as eleições gerais e comunais. O dia da eleição será um domingo ou um dia feriado;
b)Legislação popular direta. guerra e a paz decididas pelo povo;
c) Nação Armada. Substitui ao do exército permanente pela milícia popular;
d)Supressão das leis de exceção, notadamente as leis sobre a imprensa, reuniões e associações; em geral, todas leis;
e)Instituição de tribunais populares. Gratuidade da justiça;
f)  Educação geral e igual do povo pelo Estado. Obrigação escolar. Instrução gratuita em todos os estabelecimentos escolares;
g)Máxima extensão possível dos direitos e liberdade, no sentido das reivindicações acima citadas;
h)Imposto único e progressivo sobre a renda, para o Estado e as comunas, em lugar de todos os impostos indiretos, especialmente daqueles que sobrecarregam o povo;
i)  Direito ilimitado de associação;
j)  Jornada de trabalho correspondente as necessidades sociais. Proibição do trabalho aos domingos;
k) Interdição do trabalho das crianças, bem como do trabalho cuja natureza prejudique a saúde e seja ofensivo à moral da mulher;
l)  Leis de proteção a vida e a saúde dos trabalhadores. Controle sanitário dos alojamentos operários. Fiscalização do trabalho nas usinas, fábricas e oficinas, bem como trabalho a domicílio, por funcionários eleitos pelos trabalhadores. Lei delimitando claramente as responsabilidades;
m)           Regulamentação do trabalho nas prisões.”

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Marx e a entrevista ao The Chicago Tribune. 5/6


Em dezembro de 1878, aos 60 anos, Marx concede longa entrevista ao correspondente do The Chicago Tribune. Selecionei alguns trechos que serão postados sequencialmente.
Pergunta - Como o senhor explica o rápido crescimento do partido socialista na Alemanha?
Marx - O atual partido socialista teve um nascimento tardio. Os socialistas alemães não tiveram de romper com os sistemas utópicos, que alcançaram certa importância na França e na Inglaterra. Os alemães, mais do que os outros povos, são inclinados à teoria e tiraram outras conclusões praticas das experiências anteriores. Não esquecer, acima de tudo, que na Alemanha, ao contrário dos outros países, o capitalismo moderno é coisa completamente nova. Coloca, na ordem-do-dia, questões já um tanto quanto esquecidas na França e na Inglaterra. As novas forças políticas, às quais os povos desses países se submeteram, encontraram em face delas, na Alemanha, uma classe operária já convicta das teorias socialistas. Assim, os trabalhadores puderam formar um partido político independente, quase simultaneamente à instalação da indústria moderna (em seu país). Eles têm seus próprios representantes no Parlamento. Como não existe nenhum partido de oposição à política governamental, este papel recai sobre o partido operário. Retraçar aqui a história do partido levaria demasiado longe, mas posso dizer o seguinte: se a burguesia alemã não fosse composta pelos maiores poltrões, ao contrário das burguesias americana e inglesa, ela de há muito teria se oposto politicamente ao regime.”