domingo, 11 de março de 2012

O fetichismo da mercadoria antecipa o marketing ?

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A “invenção” do fetichismo da mercadoria, segundo alguns analistas, conduziu Marx na ultrapassagem dos postulados da Economia Potica clássica. Vale lembrar que Ricardo (e o Delfim Neto ainda acha que Marx foi “seduzido” por ele) ao tratar da forma como a riqueza se distribui entre as classes não se deteve no questionamento das causas que originaram esta forma de distribuão. O velho Karl, no entanto, centrou no estudo das relações de produção o objeto da Economia Potica e, assim, encontrou no fetiche da mercadoria o elemento explicativo do surgimento, da consolidação e do modo de operar destas relações e das formas de distribuão correlatas.
Para diversos marxólogos contemporâneos, a teoria do fetichismo é o elemento central que diferencia o enfoque marxista do liberal clássico. Marx teria percebido relações humanas por trás das relações entre as coisas, revelando a ilusão da consciência humana que se origina da economia mercantil e atribui às coisas características que têm sua origem nas relações sociais entre as pessoas no processo de produção.
Vale lembrar que fetiche vem de “feitiço” e para os seguidores do doutor Freud, entende-se como o substituto de um objeto do desejo.
Assim, provavelmente, o que Marx quiz dizer com fetichismo da mercadoria, é o fato do produto exercer um controle – sobrenatural até – sobre o comprador.
“… É uma relação social definida entre os homens que assume, a seus olhos, a forma fantasmagórica de uma relação entre coisas. A fim de encontrar uma analogia, devemos recorrer às regiões enevoadas do mundo religioso” O Capital volume 1.
Richard Sennet analisa o significado do fetichismo da mercadoria para entender as bases culturais que originaram  a sociedade de consumo e fizeram surgir o marketing.
 “Uma mercadoria, portanto, é algo misterioso simplesmente porque nela o caráter social do trabalho dos homens aparece a eles como uma característica objetiva estampada no produto deste trabalho; porque a relação dos produtores com a soma total de seu próprio trabalho é apresentada a eles como uma relação social que existe não entre eles, mas entre os produtos de seu trabalho(…). A existência das coisas enquanto mercadorias, e a relação de valor entre os produtos de trabalho que os marca como mercadorias, não têm absolutamente conexão alguma com suas propriedades físicas e com as relações materiais que daí se originam… É uma relação social definida entre os homens que assume, a seus olhos, a forma fantasmagórica de uma relação entre coisas. A fim de encontrar uma analogia, devemos recorrer às regiões enevoadas do mundo religioso.
Neste mundo, as produções do cérebro humano aparecem como seres independentes dotados de vida, e entrando em relações tanto entre si quanto com a espécie humana.
O mesmo acontece no mundo das mercadorias com os produtos das mãos dos homens. A isto dou o nome de fetichismo que adere aos produtos do trabalho, tão logo eles são produzidos como mercadorias, e que é, portanto inseparável da produção de mercadorias." ( O Capital Vol 1)
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2 comentários:

  1. O erro histórico de Marx foi designar a Ditadura do Proletariado como etapa fundamental para o estabelecimento do socialismo, primeira fase para a consolidação do comunismo. O Estado Operário acabou virando uma casta de privilegiados, coposta por dirigentes com mordomias e padrão de vida burguês. Ao conhecermos a biografia dele, podemos perceber também hábitos e comportamentos bem distantes do que ele pregou em sua doutrina. Tirando esses aspectos, Marx deve ser estudado e reverenciado como gênio.Quanto ao fetichismo da mercadoria, prefiro reflitir sobre o fetichismo do poder que acabou por inviabilizar qualquer projeto de consolidação de uma sociedade comunista mais justa e sem violência. Achei ótima a idéia do blog. Avante! Forte abraço,
    Gustavo Gomes de Matos

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  2. Gustavo,
    Sugiro a leitura da postagem "A tecnologia e o fim do proletariado" ( vide aqui à direita). A teoria de "auto-abolição" do proletariado parece ser o caminho mais sensato e factível para o fim do regime de classes.

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