Em comemoração ao centenário de nascimento de Marx, em 1918, Gramsci escreve um texto - Marx e o Reino da Consciência - que merece uma reflexão, decorrido quase um século.
“Marx não escreveu um catecismo, não é um messias que tenha deixado uma fieira de parábolas carregadas de imperativos categóricos, de normas indiscutíveis, absolutas, fora das categorias do tempo e do espaço. Seu único imperativo categórico, sua única norma é: "Proletários do mundo inteiro, uni-vos." Portanto, a discriminação entre marxistas e não marxistas teria de consistir no dever da organização e da propaganda, no dever de organizar-se e associar-se. Isto é muito e, ao mesmo tempo, muito pouco: quem não seria marxista? E, sem dúvida, assim são as coisas: todos são um pouco marxistas sem o saber. Marx foi grande e sua ação foi fecunda não porque tenha inventado a partir do nada, não por haver engendrado com sua fantasia uma original visão da história, mas porque com ele o fragmentário, o irrealizado, o imaturo, se fez maturidade, sistema, consciência. Sua consciência pessoal pode converter-se na de todos, e já é de muitos; por isso Marx não é apenas um cientista, mas também um homem de ação; é grande e fecundo na ação da mesma forma que no pensamento, e seus livros transformaram o mundo, assim como transformaram o pensamento.”