domingo, 20 de janeiro de 2013

O prefácio do Manifesto, em 1888.


Em janeiro de 1888, 5 anos após a morte de Marx, Engels redige prefácio para a edição inglesa do Manifesto. Transcrevo aqui um trecho onde ele conclui que o conceito da luta de classes estaria destinado a fazer pela história o que o evolucionismo de Darwin fez pela biologia.
“Embora o Manifesto seja nossa produção conjunta, considero-me obrigado a declarar que a proposição fundamental que forma o seu núcleo pertence a Marx. Essa proposição é: que, em qualquer época histórica, o modo predominante da produção económica e da troca, e a organização social que dele necessariamente decorre, formam a base sobre a qual se constrói, e só a partir da qual pode ser explicada, a história intelectual e política dessa época; que, consequentemente, toda a história da humanidade (desde a dissolução da sociedade tribal primitiva, detendo a terra em posse comum) tem sido uma história de lutas de classes, de conflitos entre classes exploradoras e exploradas, entre classes dominantes e oprimidas; que a história destas lutas de classes forma uma série de evoluções na qual se alcançou hoje um estágio em que a classe oprimida e explorada — o proletariado — não pode atingir a sua emancipação do jugo da classe dominante e exploradora — a burguesia — sem emancipar, ao mesmo tempo e de uma vez por todas, toda a sociedade de qualquer exploração e opressão, de quaisquer distinções de classes e lutas de classes.
Já alguns anos antes de 1845 estávamos ambos a aproximar-nos gradualmente desta proposição que, na minha opinião, está destinada a fazer pela história o que a teoria de Darwin fez pela biologia. Até que ponto eu tinha progredido independentemente em direção a ela é a minha Situação da Classe Operária em Inglaterra que melhor o mostra. Mas, quando voltei a encontrar Marx, em Bruxelas, na primavera de 1845, já ele a tinha formulado e  me apresentou em termos quase tão claros como aqueles em que aqui a expus.”

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

A Burguesia e a Contra-Revolução


Em dezembro de 1848, Marx publica no Nova Gazeta Renana, uma brilhante análise do comportamento revolucionário da burguesia nas revoluções de 1648 e de 1789. Segue um trecho.
“Não se pode confundir a revolução prussiana de Março, nem com a revolução inglesa de 1648, nem com a francesa de 1789.
Em 1648, a burguesia estava ligada à nobreza moderna contra a realeza, contra a nobreza feudal e contra a Igreja dominante.
Em 1789, a burguesia estava ligada ao povo contra realeza, nobreza e Igreja dominante.
A revolução de 1789 tinha por modelo (pelo menos, na Europa) apenas a revolução de 1648, a revolução de 1648 apenas a insurreição dos Países Baixos contra a Espanha. Ambas as revoluções estavam avançadas um século, não apenas pelo tempo, mas também pelo conteúdo, relativamente aos seus modelos.
Em ambas as revoluções, a burguesia era a classe que realmente se encontrava à cabeça do movimento. O proletariado e as frações da população urbana não pertencentes à burguesia não tinham ainda quaisquer interesses separados da burguesia ou não constituíam ainda quaisquer classes, ou sectores de classes, autonomamente desenvolvidas. Portanto, ali onde se opuseram à burguesia, como, por exemplo, de 1793 até 1794, na França, apenas lutaram pela perseguição  dos interesses da burguesia, ainda que não à maneira da burguesia. Todo o terrorismo francês não foi mais do que uma maneira plebeia de se desfazer dos inimigos da burguesia, do absolutismo, do feudalismo e da tacanhez pequeno-burguesa.
As revoluções de 1648 e de 1789 de modo algum foram revoluções inglesas oufrancesas, foram revoluções de estilo europeu. Não foram a vitória de uma classe determinada da sociedade sobre a velha ordem política; foram a proclamação da ordem política para a nova sociedade europeia.
Nelas, a burguesia venceu; mas a vitória da burguesia foi então a vitória de uma nova ordem social, a vitória da propriedade burguesa sobre a feudal, da nacionalidade sobre o provincianismo, da concorrência sobre a corporação, da divisão [da propriedade] sobre o morgadio, da dominação do proprietário da terra sobre o domínio do proprietário pela terra, das luzes sobre a superstição, da família sobre o nome de família, da indústria sobre a preguiça heróica, do direito burguês sobre os privilégios medievais.
A revolução de 1648 foi a vitória do século XVII sobre o século XVI, a revolução de 1789 a vitória do século XVIII sobre o século XVII. Estas revoluções exprimem mais ainda as necessidades do mundo de então do que das regiões do mundo em que se deram, a Inglaterra e a França.”